quarta-feira, 27 de março de 2013

TUVALU: O AQUECIMENTO GLOBAL E O DESTINO DE UMA NAÇÃO


Pouco conhecido para a maioria das pessoas, Tuvalu é um Estado da Polinésia formado por um grupo de nove atóis, localizados no Oceano Pacífico. Foi um protetorado britânico em 1892 e tornou-se independente em 1978. Entretanto, esse pequeno conjunto de ilhas tem chamado a atenção da comunidade internacional por conta do aquecimento do planeta.

Com uma área de 26km² (22 vezes menor que a cidade de Limeira/SP) e com uma altitude máxima em relação o nível do mar que não passa de 5 metros, Tuvalu corre sérios riscos de literalmente desaparecer do mapa se o nível dos oceanos continuar aumentando por conta do aquecimento global. Alguns estudos científicos dão conta de que, caso a temperatura do planeta continue subindo no ritmo atual, o arquipélago de Tuvalu poderá ser engolido pelo mar em menos de 40 anos.

Mapa da Oceania, onde é possível ver o arquipélago de Tuvalu

Segundo o Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (GIEC, na sigla em francês), o nível médio dos oceanos deverá subir entre 18 a 59 centímetros até 2100. Para estas ilhas, com pouca altitude como Tuvalu, Ilhas Marshall e Kiribati, seria uma catástrofe sem precedentes.

O aumento do nível dos oceanos, associado a ocupação inadequada do solo da ilha pela sua população, pode levar à salinização do sistema de abastecimento de água e das suas áreas cultivadas. Atualmente as ilhas sofrem com enchentes, resultado da erosão e de projetos imobiliários que segundo especialistas, vêm provocando um afluxo da água do mar.

O caso de Tuvalu, chama a atenção já que seus habitantes - hoje cerca de 12 mil - podem se tornar os primeiros "refugiados ambientais" da história, pois caso o planeta continue se aquecendo e os oceanos aumentando, eles terão que se refugiar nas ilhas vizinhas de Nauru e Papua Nova Guiné, ou mesmo para a Nova Zelândia.

Vista aérea de uma das ilhas que formam o arquipélago de Tuvalu

Em censos realizados mais recentemente, o número de imigrantes de Tuvalu que vivem hoje na Nova Zelândia passou de cerca de 500 no início dos anos 90, para mais de 2.600 nos últimos anos. E esse número pode aumentar, devido a preocupação dos seus habitantes com a crise ambiental instalada.

Em 2009 na COP15 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas - realizada em Copenhagen, Dinamarca, o representante de Tuvalu na conferência, Ian Fry, pediu emocionado para que os países em desenvolvimento se comprometessem a diminuir suas emissões de gases estufa na atmosfera. "O destino do meu país está nas mãos de vocês", disse Fry, num tom dramático de quem vê seu país desaparecer diante da indiferença das nações mais desenvolvidas.

É pouco provável que os países desenvolvidos e em desenvolvimento, responsáveis pela maior parte dos poluentes lançados na atmosfera se comovam com a situação de Tuvalu. Entretanto, se nada for feito para redução da emissão de gases que agravam o efeito estufa, não só a população dessa minúscula ilha do Pacífico vai sofrerá as consequências, mas também todos nós, seja por nossas práticas ambientais inadequadas, ou mesmo pela simples omissão.

quarta-feira, 13 de março de 2013

FUKUSHIMA: LIÇÕES TIRADAS DA TRAGÉDIA

Dois anos depois da tragédia que matou mais de 19 mil pessoas, o Japão luta dia após dia para se livrar da contaminação radioativa ocorrida após o tsunami que destruiu a usina nuclear de Fukushima, na costa leste do país. Além dos mortos e desaparecidos, mais de 300 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e provavelmente jamais retornarão.
 
 
Foto aérea de um dos locais onde ocorreu a explosão do reator nuclear
Foto: Reuters 
 
Essa tragédia nos mostrou o quanto o uso da energia nuclear pode ser perigoso em caso de acidentes, como o ocorrido na usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 e que o saldo desses acidentes pode perdurar por décadas, não só do ponto de vista econômico, mas também ambiental, social e de saúde.
 
A Tokyo Electric Power (TEPCO) que administrava o complexo de usinas nucleares Fukushima-Daiichi acredita que os trabalhos para limpeza dos reatores levarão em torno de 40 anos e que as indenizações podem custar aos seus cofres cerca de 100 bilhões de euros.
 
Mais do que isso, uma projeção da Organização Mundial da Saúde mostra que o risco de contrair câncer é maior nas regiões contaminadas. Já uma outra organização médica internacional espera até 80 mil casos de câncer a mais, apenas pela exposição à radiação externa.
 
Médico analisa índice de radioatividade em moradores da região de Fukushima
Foto: EFE 
 
Foi necessária uma tragédia dessa proporção para que o Japão, responsável por mais de 10 por cento da energia nuclear global, desativasse temporariamente suas usinas depois do acidente de Fukushima. Alemanha, Suíça e Bélgica já haviam decidido eliminar suas usinas atômicas e investir mais em energias renováveis.
 
Na contramão da tendência está o Brasil, com um potencial para energia limpa enorme, mas que 2011 (mesmo ano da tragédia japonesa), através do Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o governo planeja a aprovação de mais quatro usinas nucleares, duas no sudeste e duas no nordeste. Trataremos dessa questão nas próximas postagens.
 
ma das lições que podemos tirar desse fato é que em um mundo com mais de 7 bilhões de habitantes, a necessidade pelo uso de fontes de energia limpas e renováveis e a não-dependência por combustíveis fósseis e energia nuclear para suprir essa demanda deve se tornar realidade o mais rápido possível.
 
O Japão? Bem, o país já mostrou capacidade e empenho para lidar com situações trágicas e se reerguer como nação e se desenvolver. Foi assim após os ataques atômicos em Hiroshima e Nagasaki, após o terremoto de Kobe em 1995 e agora, na tragédia nuclear de Fukushima.
 
Porém, um acidente nuclear não conhece fronteiras e portanto deixa de ser apenas um problema japonês ou ucraniano, como o caso de Chernobyl. É um problema internacional e com consequências globais para o meio ambiente. Se estávamos esperando o pior acontecer para tomarmos uma atitude, a hora é agora. Que casos como o de Fukushima sirvam de lição para as demais nações do globo.

domingo, 3 de março de 2013

A TRAGÉDIA DO MAR DE ARAL

Com uma área de cerca de 68 mil km² e encravado em meio a aridez da Ásia Central, o Mar de Aral foi um imenso lago salgado localizado próximo as províncias de Aqtobe e Qyzylorda entre o Cazaquistão e o Uzbequistão. Foi, pois o que existe hoje naquela região é um imenso deserto de sal e areia, fruto da degradação sofrida ao longo de décadas.

 

Localização do Mar de Aral na Ásia Central
 
Antigamente o Mar de Aral era chamado de "Mar das Ilhas", devido ao grande número de pequenas ilhas presentes em seu leito, bem como, era um dos quatro maiores lagos do mundo. Hoje essas ilhas inexistem, o lago perdeu cerca de 60% do seu tamanho e seu volume de água está reduzido a cerca de 10% do seu volume original.

 


Camelos pastando pelo leito seco do Mar de Aral

A catástrofe deu-se início no final dos anos 50, quando o governo da antiga União Soviética elaborou um projeto para a transposição das águas do Amu Darya e do Syr Darya, principais afluentes do Aral, para irrigação de áreas de plantio de algodão.

A enorme quantidade de agrotóxicos lançados nas plantações poluiu cerca de 15% das águas, as quais já sofriam pelo impacto da produção energética soviética fornecida por 45 usinas hidrelétricas espalhadas pela bacia.

Como consequência desses impactos, associados a erosão, ao uso excessivo da água e poucas chuvas, o mar passou a receber toneladas de sal trazidas pelos rios, afetando toda a indústria pesqueira que sustentava a economia local. Toda a floresta circundante acabou e 80% das espécies de animais desapareceram.
 
 
Sequência de fotos tiradas por satélite mostrando a degradação do Mar de Aral ao longo de 20 anos
 
 
O sal e os pesticidas usados nas plantações de algodão infiltraram no solo, contaminando os lençóis freáticos, impossibilitando a agricultura e elevando não só o desemprego, mas também os índices de doenças como o câncer.

A tragédia ambiental abatida sobre o Mar de Aral deve nos servir de lição. Práticas predatórias e a falta de um planejamento técnico adequado, podem comprometer para sempre um ecossistema inteiro e todos os elementos que dependem dele. Se nada for efetivamente feito, o Aral pode desaparecer para sempre.